Acordo Brasil-China impulsiona projeto de Ferrovia Bioceânica e reacende antiga aspiração da Amazônia Ocidental

Acordo Brasil-China impulsiona projeto de Ferrovia Bioceânica e reacende antiga aspiração da Amazônia Ocidental

Nesta segunda-feira (07), um memorando assinado entre Brasil e China no Ministério dos Transportes deu um passo significativo em direção à viabilização de um corredor ferroviário transcontinental, conectando os oceanos Atlântico e Pacífico. O projeto, que visa integrar as ferrovias de Integração Oeste-Leste (Fiol), Centro-Oeste (Fico) e Norte-Sul (FNS) ao recém-inaugurado porto de Chancay, no Peru, representa uma das mais antigas e persistentes demandas da região amazônica.

Os estudos para essa infraestrutura estratégica serão conduzidos pela Infra S.A., do Brasil, e pelo China Railway Economic and Planning Research Institute. De acordo com informações da imprensa nacional, partes da rede ferroviária brasileira já estão em andamento: a Fiol (Ilhéus/BA a Mara Rosa/GO) e a Fico (Mara Rosa/GO a Lucas do Rio Verde/MT). Lucas do Rio Verde será o ponto de conexão dessas ferrovias com a Ferrovia Norte-Sul.

A partir de Lucas do Rio Verde, a Ferrovia Bioceânica está planejada para atravessar a fronteira do Mato Grosso com a Bolívia, Rondônia e o sul do Acre, até alcançar o porto de Chancay, um empreendimento no Peru que recebeu consideráveis investimentos chineses. Este corredor ferroviário se insere no contexto das Rotas de Integração Sul-Americana, um projeto do Ministério do Planejamento e Orçamento lançado em 2023, que busca aprimorar a conexão multimodal (rodoviária, fluvial e ferroviária) em áreas de fronteira com países vizinhos.

Um sonho de décadas para a Amazônia Ocidental
A ideia de uma ferrovia que ligue o Brasil aos portos do Pacífico é uma antiga aspiração da Amazônia Ocidental, defendida com veemência pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Rondônia (Fecomércio/RO) desde a década de 80. A entidade, inclusive, historicamente argumenta pela priorização do trecho Porto Velho-Sapezal, conhecido como “Ferrovia da Soja”, para aliviar a saturada BR-364.

É importante notar que iniciativas anteriores para esta ferrovia, inclusive com a participação chinesa há mais de dez anos, não prosperaram devido à falta de estudos aprofundados e a divergências internas, especialmente em relação ao fornecimento de equipamentos por parte da China.

Raniery Araujo Coelho, presidente da Fecomércio/RO e vice-presidente da CNC, recebe os estudos com cautela e otimismo. Ele destaca que, embora a iniciativa seja fundamental para as necessidades de infraestrutura da região, “são apenas estudos. Precisamos de investimentos para a construção da ferrovia e superar as barreiras existentes para seu uso.” Coelho alerta para a lição da Rodovia Bioceânica: apesar de implantada após duas décadas, o fluxo comercial com os países vizinhos não atingiu seu potencial máximo devido a entraves em acordos e alfândegas, demonstrando que a infraestrutura, por si só, não é suficiente para transformar a realidade comercial da região.

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