Inteligência Artificial promete revolucionar dinâmica do agronegócio brasileiro

Inteligência Artificial promete revolucionar dinâmica do agronegócio brasileiro

Tecnologia lançada nesta terça-feira, 28, promete romper barreiras e ampliar acesso à IA para produtores rurais

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Leonardo Morais
Inteligência Artificial promete revolucionar dinâmica do agronegócio brasileiro

Como complemento à ferramenta, empresa desenvolveu drone Airpier, que promete reduzir de 5 dias para 5 horas pulverização de cultura de 1000 hectares | Crédito: Divulgação Psyche aerospace

Em uma realidade marcada por fortes tradições, a tecnologia segue rompendo barreiras e levando ao campo soluções para melhorar a eficiência. Com uma proposta ousada, a plataforma Turing, desenvolvida pela startup Psyche Aerospace, propõe, através da Inteligência Artificial (IA), potencializar a gestão do agronegócio no Brasil e otimizar operações com o uso de drones.

Com lançamento nesta terça-feira (28), em São Paulo, a empresa quer levar ao produtor rural de diversos estados brasileiros uma ferramenta capaz de processar dados e gerar insights que aumentem a produtividade nas fazendas. A proposta é integrar imagens e características do campo com dados públicos, como boletins, análises de mercado, clima e correlacioná-las para que cada player adote soluções específicas locais.

O foco, segundo o CEO da Psyche Aerospace, Gabriel Leal, será otimizar a pulverização agrícola através de drones e tecnologia de geoprocessamento automatizado com o potencial de atender produtores e empresas b2b. “Começamos do zero e decidimos focar o agronegócio, em especial, pelo problema na pulverização de defensivos, que está estagnada há décadas”, argumenta.

Gabriel Leal
CEO Gabriel Leal: começo do zero e decisão por focar o agronegócio pelo problema na pulverização | Crédito: Divulgação Psyche aerospace

Cem por cento funcional desde junho do ano passado, a idealização da ferramenta Turing contou com a experiência do professor e especialista em Inteligência Artificial, Anderson Rocha, que desenvolveu um conjunto de soluções para o agronegócio capazes de auxiliar tomadas de decisões a partir dos dados gerados. “Desenvolvemos o próprio hardware, processamos esses dados e geramos insights para ações”, explica.

Com a ferramenta, será possível processar imagens de drones e integrar dados históricos e climáticos de plantações e propriedades. O Turing também permitrá o monitoramento em tempo real de plantações, detecção precoce de pragas, estresse hídrico, falta de nutrientes no solo e otimização da aplicação de insumos.

Como complemento à ferramenta, a empresa está desenvolvendo equipamentos, como o drone Airpier, que promete reduzir de cinco dias para 5 horas a pulverização de uma cultura de 1000 hectares na comparação com tratores convencionais. O drone promete operações descomplicadas, dispensando a necessidade de mão de obra ou infraestrutura do produtor.

Plataforma Turing
Proposta da plataforma Turing é integrar imagens e características das propriedades com dados públicos | Crédito: Divulgação Psyche aerospace

A aplicação no campo é realizada de forma seletiva e uniformizada, com menor utilização de defensivos. “Essas ferramentas aumentarão significativamente a produtividade, reduzirão custos e desperdícios e ainda promoverão a sustentabilidade ambiental”, explica Rocha.

Inicialmente, a empresa projeta contratos com, no mínimo, 10 empresas de grande porte para alavancarem o negócio. Após demonstrarem a força do produto, o objetivo, segundo o executivo é concretizar cerca de 3 mil empregos até 2026 e R$ 1 bilhão em contratos – cerca de quatro vezes mais do que o valor inicial de investimento na ferramenta, que foi de aproximadamente R$ 250 mil.

Sul de Minas e Triângulo Mineiro são regiões de grande potencial para tecnologia

Minas Gerais é encarado como um estado-chave para a Psyche Aerospace. Regiões como Triângulo Mineiro e Sul de Minas estão entre os potenciais alvos da empresa graças ao bom desempenho em setores como sucroenergético, celulose, soja e café.

“Com certeza, vamos atuar em Minas Gerais. Estamos discutindo com o setor público para participar do evento e esperamos colaborar, a partir dos nossos equipamentos, com questões também de interesse público, como o combate a incêndios a partir do uso de drones”, destaca o CEO.

A consolidação da ferramenta é encarada pela empresa como “a maior democratização agrícola e tecnológica para o agronegócio nos últimos tempos”. Para viabilizar a acessibilidade a médio e longo prazo para as propriedades rurais, o negócio se articula com cooperativas e palestras offline para ajudarem no incentivo ao produtor.

“Precisamos que lideranças acreditem nisso. Nosso público-alvo é o produtor rural, sem distinção de tamanho. Queremos democratizar o acesso à tecnologia para todas as propriedades interessadas”, finaliza Gabriel Leal.

Barreira tecnológica é o maior desafio no Estado

A realidade dos produtores rurais em Minas Gerais reflete uma ampla diversidade de níveis de tecnificação. Enquanto grandes propriedades contam com tecnologia de ponta em diversas frentes de trabalho, muitos pequenos e médios produtores ainda exercem atividades manuais.

Segundo o gerente-executivo do Instituto Antônio Ernesto de Salvo (Inaes) – que é o braço de inovação e pesquisa do Sistema Faaemg Senar -, Bruno Rocha de Melo, o Estado conta com a particularidade de possuir um público majoritariamente composto por pequenas propriedades rurais, grande parte de origem familiar. Parte desse público implementa pouca ou nenhuma adoção de tecnologias nos cultivos em decorrência de falta de capacitação.

“Observamos que parte das pequenas propriedades ainda não possuem equipamentos básicos como computador de mesa. Elas dispõem de celulares, que geralmente são limitados, com pouca memória e, a partir disso, começam as barreiras para a evolução tecnológica”, detalha.

Em 2023, de acordo com uma pesquisa interna realizada pela Faemg, 47% dos produtores rurais mineiros ainda não possuíam sinal de internet. O levantamento, realizado com 8.858 produtores no Estado, mostrou que a limitação de conectividade é uma das principais barreiras para a implementação de tecnologias no agronegócio, incluindo a Inteligência Artificial.

Com esses dados, Melo ressalta que, atualmente, IA generativa, por ser dependente de internet, deve caminhar a passos curtos enquanto uma evolução em conectividade não ocorra nos espaços rurais. “Não há um interesse das empresas de comunicação, porque o adensamento populacional no interior é muito baixo. Temos a expectativa de que a tecnologia via satélite possa ser a solução mais viável para essa ampliação”, pontua.

Para aquelas que já adotaram, os resultados são otimistas e contribuem para atender exigências do mercado internacional. Na bovinocultura de leite, por exemplo, a IA segue ajudando produtores no monitoramento de aspectos sanitários, além de detecções e controles importantes como cio da vaca, mastite e inflação nos tetos mamários. Já na avicultura, a tecnologia está presente na automação de granjas, no controle alimentar, além de contribuir para o sistema de rastreabilidade da carne e de ovos.

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