
Rondônia, com sua localização estratégica e Porto Velho, sua capital, sempre tiveram uma vocação comercial e de entreposto desde os tempos mais remotos, intensificada ainda mais com a construção da BR-364. No século XVIII, a visão extraordinária do Marquês de Pombal já posicionava Porto Velho como o coração da América do Sul. Foi com base nessa vocação que, na década de 1990, empresários e intelectuais do nosso Estado lutaram pela implementação da estrada bioceânica, conectando o Brasil ao Peru. Embora a estrada tenha sido construída, o sonho de integração cultural e comercial não se concretizou, em parte devido à falta de preparação e a empecilhos burocráticos, como a ausência de alfandegamento adequado no aeroporto e de postos alfandegários eficientes.
Apesar dessas dificuldades, o cenário está mudando. A crescente integração entre Brasil e Peru, impulsionada pela expansão do capital chinês em escala global, promete transformar essa realidade. Um exemplo claro disso é o Porto de Chancay, no Peru, onde estão sendo investidos US$ 3,6 bilhões em um projeto chinês. Este porto faz parte de um plano maior, conhecido como Quadrante Rondon, que visa integrar economicamente os Estados do Acre, Rondônia, o norte do Mato Grosso do Sul, e os países vizinhos Bolívia e Peru.
Recentemente, uma carga experimental saiu do Porto de Chancay e chegou à Zona de Processamento de Exportação (ZPE) em Senador Guiomard, Acre, marcando o início de uma cooperação com a empresa Cosco Shipping, que administra o terminal. Essa rota, que percorre 2.700 km desde Chancay até o Acre, promete transformar a ZPE em um centro de distribuição e logística para apoiar as cargas provenientes da Ásia.
Essa nova infraestrutura reduzirá em até 10 dias o tempo de viagem para a Ásia, impactando diretamente o comércio em Rondônia. Insumos da Zona Franca de Manaus, por exemplo, tendem a passar por aqui, tornando as importações e exportações mais baratas, aumentando a competitividade dos nossos produtos e reduzindo os preços.
Nenhuma empresa de Rondônia, mesmo aquelas que não possuem negócios internacionais, ficará imune a essa transformação. Portanto, é essencial estarmos preparados, aprimorando a qualidade dos serviços locais, incentivando o turismo e melhorando nossa capacidade de realizar com eficiência os embarques, desembaraços aduaneiros, emissão de documentos, e certificações necessárias.
Precisamos criar uma agenda proativa para não sermos meros espectadores desse processo. A lógica do capital é implacável e está moldando a agenda política. O próprio presidente da República, por meio da ministra do Planejamento, Simone Tebet, já afirmou que Brasília fará o que for necessário para que este projeto de infraestrutura seja efetivado.
Essa é a nossa chance de impulsionar Rondônia para um novo patamar de desenvolvimento sustentável. Nós, empresários, devemos aproveitar essa oportunidade para explorar as grandes transformações que nossa região experimentará nos próximos 15 anos.
Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Rondônia e Vice-Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo-CNC.