Mesmo diante dos desafios, sinais de recuperação mantêm o otimismo do mercado
Por Raniery Araujo Coelho (*)
O cenário econômico brasileiro segue marcado por desafios expressivos, como a ausência de medidas eficazes para conter a alta carga tributária. Ainda assim, tanto os empresários do comércio quanto o mercado financeiro mantêm uma expectativa moderadamente otimista para o desempenho da economia até o final de 2025. Essa percepção, à primeira vista, reflete a complexidade do ambiente macroeconômico brasileiro, onde indicadores pontuais sinalizam melhora, mesmo em meio a incertezas persistentes.
Um dos sinais mais relevantes vem do Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central em 23 de junho. A projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, aponta para um fechamento de 2025 em torno de 5,24%, ligeiramente abaixo das estimativas anteriores. A tendência de queda gradual da inflação representa um alívio, especialmente após o recente aumento da taxa básica de juros (Selic), fixada em 15% como medida de contenção inflacionária.
Apesar das incertezas no cenário interno, o Banco Central mantém uma postura cautelosa e técnica. As projeções para os anos seguintes indicam estabilização inflacionária, com o IPCA estimado em 4,5% para 2026 e 4% para 2027; patamares alinhados às metas oficiais.
O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) também apresenta leve melhora. A estimativa atual é de crescimento de 2,21% em 2025, um avanço modesto, mas consistente, frente às projeções anteriores. Para 2026 e 2027, as previsões indicam crescimentos de 1,85% e 2%, respectivamente. Embora tímidos, esses índices demonstram um trajeto de recuperação gradual.
No entanto, o ano eleitoral de 2026 tende a adicionar novas variáveis ao cenário, com possíveis repercussões sobre o ritmo da atividade econômica. A expectativa é que medidas de maior impacto, como reformas estruturantes e novos investimentos, sejam postergadas, ganhando força apenas em 2027, quando o ambiente político-institucional poderá oferecer mais estabilidade.
No mercado cambial, as estimativas indicam que o dólar deve encerrar 2025 cotado em torno de R$ 5,72, levemente abaixo das projeções anteriores. A tendência aponta para uma certa estabilidade no câmbio, apesar das pressões internas.
Ainda que os indicadores inspirem algum otimismo, o Brasil continua enfrentando entraves sérios. A ausência de ações concretas para reequilibrar a política fiscal e conter o aumento de tributos pode comprometer a confiança de investidores e limitar o potencial de crescimento no médio prazo. Tais fatores reforçam a necessidade de reformas consistentes que garantam previsibilidade e atratividade econômica.
No contexto regional, Rondônia segue com uma visão esperançosa. Os dados macroeconômicos sugerem que, se bem conduzidas, as políticas públicas podem sustentar a recuperação em andamento. Com inflação sob controle, PIB em expansão gradual e câmbio estável, o país tem diante de si uma janela de oportunidades. Para aproveitá-la, será preciso avançar na implementação de reformas estruturais e fortalecer a responsabilidade fiscal.
O Brasil tem condições de crescer com equilíbrio e consistência. Mas isso depende, sobretudo, da capacidade de transformar boas expectativas econômicas em decisões estratégicas sustentáveis.
(*) Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Rondônia (Fecomércio-RO) e Vice-Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).