Roubo de carga impõe perdas bilionárias ao varejo, alerta CNC em seminário de transporte rodoviário

Roubo de carga impõe perdas bilionárias ao varejo, alerta CNC em seminário de transporte rodoviário

Na Câmara dos Deputados, economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, destacou os impactos econômicos do crime nas cadeias de abastecimento

Durante o XXIV Seminário Brasileiro do Transporte Rodoviário de Cargas, realizado na manhã de 11 de junho, no Auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados, o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Felipe Tavares, fez um alerta para os impactos econômicos do roubo de cargas no Brasil. Segundo ele, o crime é um dos principais responsáveis por desorganizar cadeias de abastecimento e aumentar o custo dos produtos para o consumidor final.

“O roubo de carga vem sendo um problema significativo para o País, não só pela questão da insegurança, mas por todo o efeito econômico que ele tem nas cadeias, especialmente do varejo, que acaba sendo o principal afetado na ponta dos negócios”, afirmou Tavares.

Prejuízos superam R$ 1 bilhão ao ano

Dados apresentados pelo economista mostram que, em 2023, foram registradas 17.108 ocorrências de roubo de carga no Brasil, um crescimento de 4,8% em relação ao ano anterior. A maior parte das ocorrências (76%) se concentra na Região Sudeste, com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro, regiões de grande densidade logística e econômica.

“O custo total do roubo de cargas gira entre R$ 1,2 e R$ 1,7 bilhão por ano, comprometendo a competitividade e a viabilidade econômica de muitos negócios. É um problema com raízes econômicas, não sociais. Roubar carga virou um negócio lucrativo”, ressaltou Tavares.

Além dos prejuízos diretos, o economista chamou a atenção para o impacto indireto nos custos logísticos, como seguros e escolta armada, que acabam sendo repassados ao consumidor.

“O seguro de cargas de alto valor, como eletroeletrônicos, pode chegar a representar até 8% do custo total do varejista. Isso compromete margens que, em empresas listadas em bolsa, giram em torno de 6% a 7%. Ou seja, o custo da insegurança ameaça a sustentabilidade do próprio negócio”, explicou.

Crime alimenta mercado paralelo

Felipe Tavares também apontou os efeitos do roubo de carga na formação de mercados paralelos, abastecidos com mercadorias roubadas. “Isso destrói a competição justa. Pequenos e médios varejistas não conseguem competir com esse mercado cinza e muitas vezes são levados à falência”, alertou.

O economista relatou uma experiência vivida anteriormente no setor, ao mencionar um roubo de cartões de videogame, ocorrido na Rodovia Presidente Dutra.

“Sabíamos onde estava o caminhão, a seguradora também. Mas, por estar no Complexo da Maré, a carga não pôde ser recuperada. Depois, recebemos um relatório mostrando onde os cartões estavam sendo ativados, o que revela a importância da inteligência de dados para identificar receptadores”, contou.

Experiências internacionais

Tavares destacou iniciativas de países como Reino Unido, Estados Unidos, Colômbia e México, que conseguiram reduzir os índices de roubo de carga com medidas como a criação de corredores logísticos seguros, forças policiais especializadas, rotas classificadas por risco e integração entre setor público e privado.

“Na Europa, rotas são classificadas com base em riscos logísticos. Essa transparência diminui a assimetria de informação, o que reduz o custo do seguro. Se a seguradora entende melhor o risco, ela cobra menos, e isso impacta positivamente o preço final do produto”, argumentou.

Reforma tributária pode agravar o problema

Ao final de sua fala, Tavares destacou os efeitos da reforma tributária sobre os serviços de segurança privada. Segundo ele, a previsão de aumento de até 350% nos impostos que incidem sobre escoltas armadas e empresas de segurança representa um retrocesso no combate ao roubo de carga.

“Fica difícil combater o crime se o serviço fundamental para enfrentá-lo vai ficar mais caro por causa de impostos. É preciso pensar nos incentivos corretos. Quem paga essa conta, no fim, é o consumidor, com produtos mais caros e escassez nas prateleiras”, concluiu.

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